A saúde ocular está diretamente relacionada à qualidade de vida e ao bem-estar em todas as fases da vida, desde a infância até a terceira idade.
O exame oftalmológico, popularmente conhecido como exame de vista, é o principal aliado para diagnosticar precocemente problemas de visão e doenças oculares, mesmo antes da manifestação dos primeiros sintomas.
Neste artigo, explicaremos como funciona o exame oftalmológico, quais são os principais testes realizados, as alterações que podem ser detectadas e a importância de fazer esse acompanhamento periodicamente desde o primeiro ano de vida.
Como funciona o exame?
O exame oftalmológico (exame de vista) é uma avaliação clínica completa feita por um médico oftalmologista, cujo objetivo é analisar não apenas a capacidade visual, mas também a estrutura e o funcionamento de diversas partes dos olhos.
Para que seja possível entender as necessidades e demandas do paciente de forma completa e humana, esse processo envolve várias etapas:
- entrevista clínica (anamnese): primeiro, o médico inicia o atendimento ouvindo as queixas do paciente, histórico de doenças oculares, uso de óculos, histórico familiar e outras condições médicas, como diabetes e hipertensão, que podem impactar a saúde ocular;
- avaliação da acuidade visual: teste que mede a nitidez da visão para longe e para perto, com e sem correção óptica;
- exames físicos dos olhos: incluem a inspeção externa das pálpebras, conjuntiva, córnea, cristalino, fundo do olho e avaliação dos movimentos oculares;
- testes complementares: quando necessários são realizados outros exames, como tonometria (pressão intraocular), campimetria visual (campo de visão), tomografia de coerência óptica (OCT), entre outros
A consulta dura, em média, entre 30 e 60 minutos, dependendo da necessidade de exames complementares, sendo totalmente indolor na maioria dos casos.
A avaliação oftalmológica em crianças, idosos e pacientes com doenças crônicas pode demandar testes e análise mais detalhados.
Quais são os principais exames oftalmológicos?
Durante a consulta, são realizados diferentes exames oftalmológicos a depender da faixa etária, queixas e riscos do paciente. Eles incluem:
Exame de acuidade visual
Esse é o exame mais associado ao termo “exame de vista”. Utilizando a tabela de Snellen, o paciente é convidado a ler letras ou símbolos de tamanhos variados, localizados a uma distância padrão. O objetivo é medir o quanto a pessoa consegue enxergar com nitidez a diferentes distâncias os diferentes tamanhos.
Em crianças são utilizados optotipos adaptados, como desenhos ou a letra “E” em diferentes posições.
Durante o exame pode ser necessário realizar a dilatação das pupilas. Esse procedimento consiste na aplicação de colírios midriáticos — como a tropicamida a 1% ou o ciclopentolato — que promovem o alargamento temporário da pupila, permitindo ao oftalmologista examinar com mais detalhes estruturas internas do olho, como a retina, a mácula, o nervo óptico e o cristalino.
A dilatação da pupila (midríase) é fundamental, por exemplo, para diagnosticar doenças como retinopatia diabética, degenerações retinianas e sinais precoces de glaucoma.
O colírio geralmente leva 30 minutos para fazer efeito, o que pode influenciar a duração da consulta, e pode durar algumas horas até passar o efeito da dilatação.
Durante esse período é comum o paciente sentir visão embaçada e maior sensibilidade à luz, o que pode gerar leve desconforto — especialmente para leitura ou uso de telas. No entanto, trata-se de um procedimento seguro, indolor e essencial para um exame oftalmológico completo e preciso.
Teste de refração
Quando detectada uma alteração na visão, é realizado o exame de refração para identificar o grau da lente corretiva necessária para corrigir miopia, hipermetropia, astigmatismo ou presbiopia.
Nesses casos, pode ser realizado o exame de refração com cicloplegia, utilizado principalmente em crianças, adolescentes ou em casos em que há suspeita de acomodação excessiva dos olhos — quando o esforço para enxergar pode alterar o grau real do erro refrativo.
Nesse exame, são aplicados colírios cicloplégicos (tropicamida ou o ciclopentolato) que temporariamente paralisam o músculo ciliar do olho, impedindo a acomodação e permitindo medição mais precisa do grau a ser corrigido.
O procedimento também provoca dilatação das pupilas e efeitos colaterais temporários, como visão embaçada e fotofobia temporária. Não é recomendado o paciente dirigir após a realização do exame.
Avaliação da motilidade ocular
O médico verifica se os músculos oculares estão funcionando de forma coordenada, pedindo ao paciente que siga um objeto em movimento. Essa avaliação ajuda a identificar desvios, paralisias oculares e alterações sutis no alinhamento dos olhos.
Quando necessário, essa etapa pode ser complementada com o teste ortóptico, que examina com mais profundidade o equilíbrio e a coordenação binocular, sendo especialmente importante na investigação de estrabismo infantil e problemas de visão em três dimensões.
Tonometria
A tonometria mede a pressão interna dos olhos, importante para identificar glaucoma em fases iniciais. Pode ser feita com sopro de ar (tonometria sem contato) ou com aparelhos de aplanação, considerados mais precisos.
Principalmente quando usados os aparelhos de aplanação, que fazem contato direto com a córnea, são usados colírios anestésicos que evitam desconforto ou reflexo de piscar durante o exame. O paciente pode sentir desconforto visual e sensibilidade à luz nas horas seguintes à aplicação do colírio.
Fundoscopia
Também chamada de exame de fundo de olho, a fundoscopia permite ao médico observar diretamente a retina, o nervo óptico e os vasos sanguíneos. É usada para diagnosticar doenças como degeneração macular relacionada à idade, descolamento de retina, retinopatia diabética e hipertensão ocular.
Avaliação da córnea e da conjuntiva
Utilizando a lâmpada de fenda, o oftalmologista analisa minuciosamente estruturas como córnea, íris, cristalino e câmara anterior. O exame é necessário para investigar sinais de infecções, inflamações, alergias, catarata, cicatrizes, lesões corneanas ou distrofias.
Avaliação do campo visual (campimetria)
É um exame funcional que mede o quanto o paciente enxerga nas áreas periféricas e centrais do campo de visão. Ele é usado no diagnóstico de perdas visuais causadas por lesões no nervo óptico, glaucoma, tumores cerebrais, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e doenças neurológicas.
Retinografia
É um exame estrutural, que permite uma visualização detalhada e ampliada da retina, incluindo áreas centrais e periféricas. É usado para diagnosticar descolamento de retina, retinopatia diabética, degenerações periféricas, tumores intraoculares, entre outros. Exige dilatação da pupila e o uso de câmeras de imagem específicas.
Outros exames, como teste de cores (Ishihara), ultrassonografia ocular, tomografia de coerência óptica (OCT) e paquimetria corneana, podem ser indicados de forma personalizada.
Quais são as alterações identificadas no exame oftalmológico?
Essa gama de exames oftalmológicos permite diagnosticar uma ampla variedade de alterações, desde condições simples até doenças graves. Entre as principais alterações que podem ser detectadas estão:
- erros refrativos: miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia;
- glaucoma: aumento da pressão intraocular, dano ao nervo óptico e perda progressiva do campo visual;
- catarata: opacidade do cristalino, levando à visão embaçada;
- degeneração macular: doença que afeta a visão central, comum em idosos.
- descolamento de retina: emergência médica que pode causar perda definitiva da visão se não tratada rapidamente;
- retinopatia diabética: lesão dos vasos sanguíneos da retina associada ao diabetes;
- estrabismo: desalinhamento ocular, causando alterações visuais;
- ambliopia (olho preguiçoso): condição comum em crianças, relacionada à estrabismo ou erros refrativos sem tratamento;
- problemas de córnea: distrofias, ceratocone e infecções.
Detectar essas condições precocemente é vital para que o tratamento tenha mais chances de sucesso, influenciando a preservação da visão no longo prazo e a qualidade de vida do paciente.
Quando realizar o exame de vista?
A periodicidade do exame oftalmológico varia conforme a idade e fatores de risco individuais, mas deverá acompanhar o paciente em todas as fases da vida.
Ainda na maternidade, é realizado o primeiro exame oftalmológico, o chamado teste do olhinho ou Teste do Reflexo Vermelho (TRV) que é uma triagem para identificação de alterações congênitas. Trata-se de um exame simples, rápido e indolor, mas muito importante para a saúde ocular de recém-nascidos.
Além dessa avaliação inicial, todas as pessoas devem passar por exames periódicos ao longo da vida:
- entre 6 a 12 meses: é realizada a primeira consulta completa com o oftalmopediatra, na qual já pode ser realizado o exame oftalmológico completo, inclusive com dilatação da pupila;
- entre 3 e 5 anos: consiste na avaliação fundamental ao desenvolvimento infantil e pré-alfabetização, o que garante que problemas de visão não prejudiquem o desenvolvimento da criança ou aprendizado escolar;
- dos 6 aos 18 anos: devem ser realizados exames semestrais ou anuais, já que essa é uma fase de grande desenvolvimento corporal e visual;
- entre 18 e 40 anos: as consultas de rotina devem ser anuais, a não ser que o paciente apresente alguma doença e necessite de exames mais frequentes;
- dos 40 aos 65 anos: os exames oftalmológicos devem ser anuais ou até semestrais, a depender da orientação especializada. Nessa fase a atenção se volta a quadros como presbiopia, glaucoma e degenerações;
- após 65 anos: as consultas devem ser semestrais ou anuais, focando em doenças associadas ao envelhecimento ocular, como catarata e degeneração macular.
Os pacientes com condições específicas que predispõem a problemas de visão, como diabetes, hipertensão arterial, histórico familiar de glaucoma ou uso crônico de medicamentos que afetam a visão, devem seguir uma frequência de consultas personalizada a ser definida pelo oftalmologista responsável.
Qual a importância de realizar o exame de vista periodicamente?
A realização periódica do exame oftalmológico é essencial para a preservação da saúde ocular e para a prevenção de complicações graves. Estima-se que até 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados com diagnóstico e tratamento precoces.
Na infância, a atenção oftalmológica é indispensável. Problemas de visão não diagnosticados podem interferir diretamente no desenvolvimento escolar, motor e social da criança.
Na idade adulta muitas doenças, como o glaucoma, são silenciosas nas fases iniciais e só são detectadas por meio de exames especializados, de forma que esperar por sintomas visíveis pode acarretar consequências irreversíveis.
Já em idosos, manter a saúde ocular é fundamental para preservar a autonomia, reduzir o risco de quedas e garantir mais qualidade de vida.
Por tudo isso, a prevenção deve ser uma prioridade e os exames regulares são a melhor forma de garantir a saúde ocular.
Consultar-se periodicamente com um oftalmologista é fundamental na manutenção da qualidade de vida e para a promoção da saúde visual em todas as fases da vida.
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Referências:
https://www.msdmanuals.com
Dra. Vivian Onoda Tomikawa CRM/SP 104419