Uma das principais questões que surgem na sequência do diagnóstico é se o estrabismo tem cura. Apesar de relevante, essa dúvida só pode ser esclarecida compreendendo melhor o contexto geral da condição.
A cura do estrabismo, assim como de qualquer outra condição oftalmológica e médica, depende de um conjunto de variáveis, como idade do paciente, tipo de estrabismo, gravidade do quadro e outras.
Estrabismo: o que é e quais são as causas?
O estrabismo é mais conhecido como olhos vesgos ou vesguice. Ele consiste no desvio ocular causando o desalinhamento entre os olhos.
O desvio estrábico pode ser de diferentes tipos, como convergente, quando é horizontal no sentido do nariz, divergente, quando é horizontal no sentido da têmpora, ou vertical para cima ou para baixo. Pode ocorrer ainda a associação do desvio horizontal e vertical.
O desalinhamento é causado por desequilíbrio em um ou mais dos seis músculos responsáveis pelo movimento ocular.
Geralmente, o estrabismo ocorre ainda na infância. Nesses casos, ele está associado majoritariamente com o nascimento prematuro, malformação dos nervos cranianos, síndromes genéticas e alterações visuais.
Na idade adulta o estrabismo é mais raro e pode ter relação com traumatismos, problemas vasculares como a trombose e acidente vascular cerebral, complicações do diabetes, alterações na tireoide e outros.
A questão se o estrabismo tem cura depende diretamente de quais são as causas associadas ao desenvolvimento do quadro e a idade do paciente.
Quais são os tratamentos para estrabismo?
Existem diferentes opções de tratamentos para estrabismo. A orientação de qual a abordagem preferencial é realizada pelo oftalmologista a partir de exames oftalmológicos completos para identificar a gravidade, tipo e características do caso.
Tampão
O uso de tampão é um dos principais tratamentos para estrabismo diagnosticados na infância.
O estrabismo na infância apresenta riscos elevados, pois o desenvolvimento visual da criança ocorre até os 8 anos, em média.
Dessa forma, o estrabismo não tratado na infância apresenta riscos elevados de causar ambliopia, conhecido popularmente como olho preguiçoso.
Nesse caso, o cérebro recebe duas imagens e não consegue convertê-las em uma única imagem como ocorre na visão saudável, que gera uma imagem 3D com perspectiva de profundidade.
Assim, o cérebro passa a “ignorar” a imagem capturada pelo olho estrábico, de forma que a criança pode perder permanentemente a visão do olho desviado.
O tampão visa justamente estimular a visão do olho estrábico nos anos de desenvolvimento visual da criança.
Isso mostra a relevância do diagnóstico precoce do estrabismo na infância e início imediato do tratamento para evitar alterações visuais permanentes ou até mesmo perda da visão de um dos olhos.
Ao estimular o olho desviado, o uso do tampão contribui diretamente no desenvolvimento da capacidade visual da criança. Entretanto, em alguns casos, pode ser necessária a cirurgia de estrabismo visando o alinhamento dos olhos, principalmente para atender demandas estéticas.
O tampão não é uma abordagem indicada no tratamento de estrabismo em adultos, pois o cérebro já aprendeu a considerar a imagem dos dois olhos, a não ser nos casos de estrabismo intermitente.
Lentes corretivas
As lentes corretivas também compõem o leque de opções de tratamento do estrabismo.
Elas são indicadas principalmente quando os erros refrativos exigem esforço visual, o que pode resultar no desalinhamento ocular.
Ao corrigir os erros de refração e melhorar a capacidade visual, o esforço visual é reduzido e pode resultar na melhora do alinhamento dos olhos.
Entretanto, a abordagem apresenta limitações e, em geral, não consegue isoladamente corrigir totalmente ou curar o estrabismo, sendo comum a associação com outros tratamentos, principalmente a cirurgia.
Fisioterapia ocular
A fisioterapia ocular, também chamada de terapia visual ou ortóptica, é mais uma opção de tratamento para o estrabismo.
O objetivo da fisioterapia ocular é fortalecer e treinar os músculos oculares, melhorando a coordenação dos olhos e otimizando a fusão das imagens captadas por ambos os olhos.
Com esse treino é possível ajudar o cérebro e os olhos a trabalharem mais harmoniosamente para melhorar o alinhamento ocular e a visão binocular. Entre os benefícios dessa terapia incluem-se:
- fortalecimento dos músculos oculares;
- melhora da coordenação entre os olhos;
- estímulo à fusão das imagens e percepção de profundidade;
- aprimoramento do foco.
Apesar dos resultados positivos, a fisioterapia ocular apresenta limitações que devem ser consideradas na prescrição do tratamento, como ser menos efetiva para casos mais graves de desvio.
Nesse sentido, é comum que a fisioterapia ocular seja considerada um tratamento complementar, como em caso de estrabismo intermitente ou acomodativo, para prevenção da ambliopia ou melhora dos resultados no pós-cirúrgico.
Cirurgia de estrabismo
A cirurgia de estrabismo é o tratamento preferencial para muitos casos de desvio dos olhos, podendo ser associada a outras abordagens, como uso de tampão, lentes corretivas e fisioterapia ocular.
Na cirurgia o foco é a correção do desequilíbrio muscular que causa o desalinhamento dos olhos. Nesses casos, o músculo afetado pode ser reposicionado, afrouxado ou reforçado para obter o efeito almejado.
Atualmente, a cirurgia de estrabismo pode ser realizada em qualquer idade, sendo indicada também para crianças com desalinhamento ocular.
Trata-se de uma abordagem já consolidada na oftalmologia, o que garante ser um procedimento seguro, eficaz e com riscos baixos.
Para melhores resultados é indispensável seguir corretamente as orientações pré e pós-operatórias da cirurgia de estrabismo.
O estrabismo pode ser curado?
Atualmente, existem diversos tratamentos seguros e consolidados para correção do desvio dos olhos, que pode ser total ou parcial.
A cirurgia, por exemplo, é um tratamento de excelência e apresenta bons resultados para a maior parte dos pacientes. Entretanto, há riscos de recidiva do estrabismo, exigindo novo procedimento cirúrgico.
Sem o tratamento adequado, principalmente na infância, o quadro de estrabismo pode ser agravado, resultando na ambliopia e perda da visão do olho desviado.
O tempo do tratamento do estrabismo varia imensamente em cada caso, podendo ser necessário acompanhamento oftalmológico durante toda a infância para resultados mais satisfatórios.
Assim, o estrabismo tem tratamento, mas a intervenção precoce é determinante para obter melhores resultados e impactos positivos na saúde visual e qualidade de vida do paciente, independentemente da idade.
Referências:
- Dra. Vivian Onoda Tomikawa CRM/SP 104419
- Saúde bem Estar
- Hospital Albert Einstein